Príncipe dom João de Orleans e Bragança, na abertura da exposição "Retratos do Império e do exílio" no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro (22/2/2011)
Depois de guardar durante anos em seu arquivo pessoal as fotos de família, o descendente da família real, o bisneto ainda vivo da princesa Isabel, dom João de Orleans e Bragança, de 56 anos, mais conhecido como dom Joãozinho, resolveu pela primeira vez abrir o seu acervo numa mostra que retrata a vida privada no período de exílio e fatos marcantes da história brasileira. Um conjunto de 150 fotos que ficaram guardadas pelo herdeiro, o príncipe D. João, agora estão na exposição "Retratos do Império e do Exílio" no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, que abre para o público a partir desta quarta-feira (23).
“As fotos são de família, das gerações e estavam comigo na minha casa guardadas em caixas num clima úmido. Eu convivo com essas fotos desde que nasci, sempre dei valor, mas não dava tanto peso para esse acervo. Quando a família real foi para o exílio na França, D. Pedro 2º deixou 25 mil fotos para a Biblioteca Nacional, mas guardou consigo as fotos de família”, disse ao UOL o príncipe d. João, um dos curadores da exposição.
A reprodução foi feita a partir dos negativos em vidro original. “Foi uma sorte ao longo de mais de 100 anos de os originais não terem se quebrado. São fotos do dia a dia, da família reunida, a princesa Isabel com o rosto virado. Ela com o meu avô no colo, uma foto descontraída e nada posada”, contou. O acervo que o príncipe herdou foi confiado em 2009, em regime de comodato, ao Instituto Moreira Salles para que fosse preservado e restaurado. Este acervo soma quase 800 imagens de cerca de 80 fotógrafos.
Segundo o descendente real, este é um registro da rotina e do cotidiano sob um ângulo que pouco se conhece da família imperial. “Tem uma característica de fotos de pessoas em momentos mais descontraídos. Eu tinha isso em casa como foto de família mesmo. Esta é a primeira vez que estão sendo expostas dessa forma”, disse. A fotografia quando representou uma mudança de realidade, pois era capaz de registrar hábitos, costumes, arquitetura, paisagens e gente. D. Pedro 2º, disse d. João, “não queria perder o trem da tecnologia, ele trouxe para o Brasil o telégrafo, o telefone, a rede ferroviária e a fotografia”.
Na tentativa de estar na vanguarda, Pedro 2º foi o primeiro fotógrafo de origem brasileira e um dos primeiros colecionadores de fotos do mundo a reunir sistematicamente fotografias e a incentivar a prática da fotografia, ressaltou o escritor e especialista em fotografia Pedro Vasquez, ex-diretor do Instituto Nacional de Fotografia da Funarte (Fundação Nacional de Artes).
“D. Pedro era uma pessoa sisuda, com ar melancólico e compenetrado. No entanto, as fotos da família real são muito bem humoradas e engraçadas. Tem um dado humorístico, por exemplo, eu nunca vi um retrato fotográfico de d. Pedro com a coroa, ele não tinha essa pompa”, disse Vasquez. Já a princesa Isabel era vista sempre como uma princesa “carinhosa com as crianças”, disse o especialista. A informalidade da família real é também revelada em imagens tiradas por fotógrafos como Marc Ferrez e Revert Henry Klumb – professor de fotografia das princesas Isabel e Leopoldina – dentro dos palácios em que a princesa Isabel aparece com o rosto virado sem posar.
Tanto Ferrez como Klumb, ambos mantiveram uma relação próxima com a realeza e fotografaram momentos de privacidade no interior dos palácios. “Eles gozaram da informalidade da família imperial para tirar retratos ímpares dentro da aristocracia do século 19”, definiu Pedro Vasquez. Compõem a exposição retratos da família imperial brasileira que permaneceram por muito tempo inéditos como do período do exílio após a proclamação da República (1889), além de importantes imagens associadas a eventos que marcaram o Império, como as comemorações do fim da Guerra do Paraguai e a abolição da escravatura.
Para o príncipe d. João, há ainda uma falta de conhecimento do período do fim do Império e começo da República no Brasil (1889) e a exposição quer tentar resgatar esse passado desconhecido para muitos. “D. Pedro II foi imperador do Brasil durante 49 anos e a Princesa Isabel foi princesa regente e a primeira chefe de Estado mulher das Américas. Ela assinou a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei Áurea (1888) porque dom Pedro 2º estava viajando naquele momento. E ainda a minha família viveu 33 anos de exílio na França, foi o maior tempo de exílio da história política brasileira”, afirma d. João, que faz parte da primeira geração de descendentes reais nascida no Brasil.
“RETRATOS DO IMPÉRIO E DO EXÍLIO”
Quando:de 23/2 a 29/5. De terça a sexta, das 13h às 20h; Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Onde: Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro (Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea. Tel.: 0/xx/21/ 3284-7400
Quanto: entrada gratuita
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